Um olhar externo sobre o CNRE
- Consórcio de DSs

- 14 de abr.
- 3 min de leitura

Há muitos anos, não participava de uma reunião do Conselho Nacional de Representantes Estaduais (CNRE). Parte desse afastamento se deve ao meu distanciamento da estrutura sindical formal e, posteriormente, à dinâmica estadual de Minas Gerais, que restringe a participação da Delegacia Sindical de Belo Horizonte - um ponto que não cabe aprofundar aqui.
Nas últimas três reuniões do CNRE, tive a oportunidade de participar. Em duas delas, realizadas on line, participei como observadora, e da última, ocorrida no final de semana em Brasília, colhi relatos, vi alguns trechos com colegas que assistiram on line e li atas do evento.
A experiência dessas três reuniões, pode ser resumida em uma palavra: estarrecimento.
Quando o CNRE do Sindireceita foi criado, há mais de 20 anos, participei como representante de São Paulo. Após debates ricos e entusiasmados, decidiu-se pela criação de um Conselho Nacional composto principalmente por Delegados Sindicais. O objetivo era nobre: formar novas lideranças sindicais, criar um espaço privilegiado para o debate de ideias, defender e avançar os interesses da categoria, além de discutir a Receita Federal, sua estrutura e atuação no Estado Brasileiro.
O CNRE sempre esteve longe de ser um espaço de "comadres e compadres". Pelo contrário, foi palco de grandes debates, conflitos e até disputas - tudo o que é esperado, legítimo e desejável em grupos heterogêneos como o da nossa categoria. Enquanto as Assembleia Geral Nacional (AGN) e os Congressos geravam as grandes ideias estratégicas, o CNRE se dedicava a dar forma e efetividade a essas ideias, criando táticas para colocá-las em prática, usando as ferramentas disponíveis: políticas, jurídicas, tecnolôgicas…
No entanto, o que presenciei nas últimas três reuniões não guarda qualquer relação com o Conselho idealizado há mais de duas décadas. O presidente, que ocupa o cargo há 20 anos, tornou-se o "dono do pedaço". Gostaria de ter cronometrado o tempo que ele monopoliza durante o evento. Embora não o tenha feito, atrevo-me a estimar que ultrapassa 60%. A cada intervenção de um conselheiro, ele faz longas digressões, justifica cada atitude ou decisão da mesa e interrompe quase todas as falas dos conselheiros com pedidos de silêncio e atenção da plenária - cenas que remetem a uma sala de aula do ensino fundamental.
Alguns conselheiros, louváveis em suas tentativas de intervir com questões pertinentes, esforçam-se para encadear uma fala lógica nos 2 ou 3 minutos que lhes são concedidos. Contudo, frequentemente são interrompidos mais de uma vez pelas reprimendas do "professor" à "turma".
Estimo que outros 30% do tempo sejam ocupados por diretores e presidentes da Diretoria Executiva Nacional. A cada intervenção de um conselheiro, surge um diretor nacional para explicar, pedir esclarecimentos, informar ou, em alguns casos, insultar. Sim, tive a inacreditável experiência de ouvir o Diretor Jurídico referir-se às falas do Presidente do CEDS-SC e do Delegado Sindical de Rondônia como "não inteligentes". Detalhe: o Presidente do CEDS-SC tem um extenso currículo como especialista em Direito Constitucional, enquanto o colega de Rondônia, já aposentado, é um respeitado jurista.
Não sei precisar o custo de uma reunião do CNRE (pretendo consultar a prestação de contas para obter essa informação), mas certamente não é baixo. São realizadas duas reuniões ordinárias presenciais por ano, em Brasília, normalmente com a participação de mais de 100 pessoas, durante 4 ou 5 dias.
A representatividade das bases é precária, já que a maioria das Delegacias Sindicais não estão lá representadas. Temos 77 Delegacias Sindicais. Os 36 Conselheiros que compõem atualmente o CNRE representam menos do que 36 DSs, já que algumas enviam mais de 1 representante, pois as regras estatutárias permitem essa distorção. Além disso, nessa última reunião, por exemplo, 6 conselheiros eram diretores da DEN, agravando a precariedade da representação da base nesse fórum.
Feitas essas observações, ainda sob o impacto dos fatos, atrevo-me a um diagnóstico inicial, que submeto aos Analistas para debate: essa instância sindical fracassou. Consome energia, tempo e recursos financeiros, sem oferecer qualquer retorno. Nada.
Solução?
O primeiro passo é ter a coragem de admitir que fracassamos no formato desse fórum tão importante. Ele se tornou uma instância fechada em si mesma, sem representatividade, estéril nos debates, cara e incapaz de dar respostas às demandas da categoria. Mas seus objetivos iniciais ainda são atuais e necessários, portanto sua essência precisa ser preservada, como espaço de formação de lideranças e produção de alternativas.
Aproveitando que 2025 é ano de eleições no Sindireceita, é desejável que as discussões, nesse momento em que nossa atenção estará voltada para o sindicato, sua gestão e os novos dirigentes também se ocupem de repensar o Conselho Nacional de Representantes Estaduais (CNRE). É imprescindível.
Mari Lucia Baldissarelli Zonta
Delegacia Sindical de Belo Horizonte




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